5.9.06

 

A Informação Agradecida

Tinha, no artigo anterior, solicitado, da imensa e largamente generosa blogosfera, a confirmação da existência da insólita tese que Francisco Franco alegadamente apresentara à Academia Militar de Toledo, visando um plano de conquista expedita de Portugal.

Como esperava, respondeu-me um amigo, companheiro destas lides internéticas, geralmente muito bem informado em matérias histórico-políticas.

Já fui reler a passagem da portentosa biografia de Salazar de Franco Nogueira onde este facto vem também referido. Suponho que não foi aqui que primeiro obtive conhecimento deste importante episódio das historicamente atribuladas relações entre os dois estados ibéricos. Continuo convencido que ouvi ou li tal facto histórico da boca ou da pena de César de Oliveira, historiador contemporâneo já falecido.

Em todo o caso, conto ainda vir a poder averiguar com maior detalhe este assunto.

Entretanto, lá encontrei no volume III – As Grandes Crises, 1936-1945 – da obra magna de Franco Nogueira, em nota de pé de página, esta notícia confirmada.

Na minha edição, a 2ª, de Outubro de 1983, da Livraria Civilização Editora, do Porto, ela figura na página 157.

Surge ela num contexto de troca de opiniões entre representantes de Portugal e da Inglaterra, a propósito de uma «atitude de reserva histórica» que Portugal teria em relação a Espanha e não de Salazar para com Franco.

Vale apena transcrevê-la na íntegra : «Convirá neste ponto esclarecer que a atitude do General Franco para com Salazar e para com Portugal foi sempre correcta e no plano pessoal comportou-se sempre com especial deferência. Contudo, quando Cadete em Toledo, Franco escolhera como exercício do seu final de curso o tema : Como se ocupa Portugal em 28 dias. Para a época, e com os meios convencionais dos princípios do século (20), foi havido por notável pelo Estado-Maior Espanhol. Salazar sabia-o.»

Pode ter-se tratado de um exercício académico, mas não deixa de ser inquietante, por representar uma tradição histórica de ameaça de anexação ou de absorção, como por diversas vezes no passado tal se configurou.

Em momentos decisivos da sua já extensa história, sempre os Portugueses souberam rechaçá-la. Parece ser esta presente época aquela em que, de uma forma algo surpreendente, as gerações mais jovens, sobretudo, dão mostras de indiferença para com os destinos da Nação, havendo já muitos, demasiados, Portugueses para quem ela os deixaria alheios, despreocupados ou mesmo satisfeitos, com semelhante eventualidade.

Dir-se-ia que a relativa prosperidade do presente, no contexto desagregador da União Europeia para com o Estado Português, produziu nas consciências dos nossos compatriotas um efeito anestesiante, agravado pela agressividade comercial do lado Espanhol em que é visível um nítido sentido aglutinador ou integrador, tirando proveito da abertura de mercados promovida pelos fortes ventos da Liberalização, oportunamente desatados pela controversa Globalização.

No entanto, e pesem as circunstâncias, deveríamos lembrar aos nossos amigos espanhóis que é bom não abusarem do presente excesso de laxismo luso. Os fracos, às vezes, são capazes de gerar explosões incontroláveis que tudo levam na sua frente, quando os impele a força do desagravo perante o vexame sofrido.

Por arrastamento, dei comigo a reler o prólogo do VI e último volume da referida obra. Nele Franco Nogueira se compraz por haver chegado ao fim da árdua empresa que empreendera, em momentos para si incómodos, aproveitando para reputar como acto de inteligência o reconhecimento da genialidade política de Salazar.

Muitos logo se sentirão irados com tal afirmação. Sou dos que não precisam de se filiar em qualquer salazarismo serôdio, para reconhecer a extraordinária figura de Estadista de Oliveira Salazar, ainda que tenha exercido funções políticas sempre em regime de Ditadura.

Basta que evoquemos alguns períodos da Monarquia ou da 1ª República, para sentirmos que, por vezes, e por limitado período, uma Ditadura esclarecida pode ser preferível a um regime democrático podre, amolecido ou desvirtuado, que nunca estará em condições de promover o bem-estar, a justiça e a prosperidade geral do Povo.

Ditadura forte e feia foi a do Marquês de Pombal, há cerca de 250 anos e ainda hoje ela tem adeptos declarados, ufanos da estátua do déspota iluminado, hirta, imponente, ali na Rotunda, no alto da Avenida, hoje da Liberdade, vigiando, altaneira, a vasta urbe subjugada em seu redor.

As apreciações dos Homens são de facto mutáveis, muito mais as de natureza política. E o que uma época incensou, outra pode condenar. Até no plano militar isto se verifica. Haja em vista o que tem acontecido com certos vultos históricos como Napoleão, Pétain, Hitler, Estaline, de Gaulle, Churchill, etc.,para só citar uns poucos de nomes que já conheceram, por parte das populações, distintas avaliações, em diferentes períodos históricos vividos, consoante as vogas do momento.

É bom que tal seja recordado àqueles que julgam que fazem juízos definitivos sobre figuras históricas, baseados na euforia dos períodos em que, muitas vezes, o acaso da Fortuna e não o Mérito os colocou nos centros da ruidosa ribalta política.

Este algo encantatório, rutilante ambiente, de tal modo os deixa embevecidos, que, invariavelmente, lhes tolda o espírito, já de si bastante depauperado.

AV_Lisboa, 05 de Setembro de 2006

Comments:
Não achas que o que escreves pode ser mal entendido? Pelo que te conheço sei que não preferias voltar ao anterior regime por isso não compreendo muito bem o que queres dizer... Penso que a solução nunca passará por uma ditadura mas por uma alteração na mentalidade dos portugueses que defende o respeito pelos outros e a preservação daquilo que levámos anos a conquistar, afirmando-o como nosso.
 
Pode não ser ditadura mas esta dmpcracia da treta o que é ?Uma ditadura disfarçada...Tudo democratas, tudo ética mas vejam quem ocupa sem concurso nenhum os bons lugares...
Depois é um regabofe de indisciplina e falta de autoridade em que NADA FUNCIONA e se andam a enganar uns aos outros sem andarem...
Regras mais claras e maiores responsabilidades seria desejável pois que como está qualquer gato sapato faz as asneiras que quer , enche-se e vai-se embora e o ZÉ cada vez pior e a pagar mais e a ver o seu nível de vida a ir pelo cano abaixo enquanto milhares e milhares se juntam á mesa do orçamento , sem sequer serem portugueses legítimos...
 
Para Lusitânea:

O que quer dizer com "sem sequer serem portugueses legítimos"? Defende uma raça pura?
 
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